sexta-feira, 23 de novembro de 2007

DIA CINZENTO

Em tarde fria, de chuva e de vento
Com neve à mistura, num céu cinzento,
Fico à janela olhando a rua
Sem vida, sombria, vazia de gente

Nem flores, nem pássaros,
Nem cães vadios
Se vêem nas ruas
Nestes dias frios

Quisera ter o poder
E uma palaleta de cores,
Para nestes dias mortiços
Lhes mudar os humores.

Pintava a neve a chuva e o vento
De cores garridas, lindas, brilhantes.
As bolas de granizo não as esquecia
E pintava-as alegres, de cores berrantes.

sábado, 29 de setembro de 2007

VAMOS...

Vamos despenhar-nos neste momento!
Vamos despenhar-nos a cada momento!
Mergulhar numa paixão, qual fauno,
Numa floresta ao pôr-do-sol,
Vamos naufragar nesse sentimento.


Mergulhar nos teus braços roliços,
Nos teus lábios macios,
Nos teus olhos bravios,
Me deito e me afogo!
Em ti, finalmente, vou repousar!
Vou viver, vou sofrer, vou amar!

Sonhei-te em noites várias;
Em todas as horas do dia.
Beijei-te em tempos! Em Eras!
Que noutros tempos já eras
A minha melhor fantasia.

A CORRIDA

Porque corro nesta terra,
Sem norte e sem destino,
Sem nada ver nem sentir,
Sem nunca te ver sorrindo?

Porque foges de mim à noite,
Tapando teus sentimentos,
Correndo campos além
Entre choros e lamentos?

Porque nos tiram, amor,
Felicidade e carinho,
E só nos deixam a dor
Para o resto do caminho?

Porque somos tão pequenos
E nada temos de nosso
Nem nos deixam respirar!

Sem medo e sem temor
Vamos partir! Viajar!
Pr’a outra gente ver;
Pr’a noutra terra amar!

sexta-feira, 14 de setembro de 2007

VERSOS PARA O MEU PAI

Não sou esperto nem ladino,
nem sou grande espingarda;
Sou menos que um menino
Que aprende a tabuada.

Pudesse eu e mandava
Todos às suas caminhas;
Acabariam as guerras,
As tuas, as deles e as minhas.

Se eu fosse militar
Sabia ler e escrever.
Saberia batalhar!
Mas saberia morrer?

Quando uma rosa aparece
No meio dum roseiral,
Logo outra desvanece
Na sombra de um quintal.

Não sou poeta, nem fui
Nem pr’a tal tenho virtudes;
Sou um qualquer “paspalhão”
Que fala de atitudes!

Ao pai que nunca vi
Por cedo ter morrido,
Quero deixar um abraço,
Um sinal no tempo, no espaço,
Onde possa ser ouvido!

terça-feira, 11 de setembro de 2007

ESTOU PRESO

‘Tou preso sem correntes,
Sem grades e sem lamentos.
‘tou preso dentro de mim,
‘tou preso aqui e ali,
além e aquém de ti.

‘tou preso sem lamentos
Dos teus olhos e momentos;
Nos teus lábios estão sementes
Onde florescem sentimentos.

‘tou preso sem lamentos
Em angústias e sofrimentos,
Por não veres como ando,
Por não veres como sofro!

Por não me veres nem pensares
Que por ti morro de amores…
Por não veres os meus tormentos
‘tou preso sem correntes…

UMA SAUDADE...!


É noite lá fora
E é noite cá dentro!
As lembranças são muitas,
Os sentidos difusos,
E os meus sofrimentos
São muitos e confusos.

A noite é escura
E é escuro o dia;
A saudade é imensa
E a dor é maior
Do que quando te via
Pela praia correndo!

Noutros braços te lançavas
Em abraços apertados;
E em beijos prolongados
De carícias e ternos afagos.

Fugiste para longe
Para lá do horizonte
Do nosso mundo de sempre.
Deixas-te tantas paixões
Tantos amores e carinhos,
E tantas mais ilusões!

Já não somos quem fomos;
Já não temos esperanças
De ter ver regressar um dia,
Alegre, simples e amiga
De correr na praia, rindo,
Como noutro tempo, noutro dia!

segunda-feira, 9 de julho de 2007



Ora aqui está uma das maravilhas do mundo e que não tendo sido escolhida nem sequer nomeada, não deixa de ser uma maravilha!

Aliás, foi o palco escolhido para a apresentação dessas outras, o que já demonstra algum apreço!




sábado, 30 de junho de 2007

VENDO (1)

Vendo uma tristeza de hoje,
Vendo uma alegria com dois dias;
Vendo uma mágoa de anos passados,
Vendo um desgosto de todas as horas,

Vendo o que por mim passa,
O que me trespassa,
E o que me ultrapassa,

Vendo o que me desgosta,
O que me encanta,
E o que me espanta,

Vendo o que me “mata”,
O que me dá vida,
O que me entristece,
E o que me aborrece,

Vendo o que me alegra,
O que me acorda,
E o que me adormece,

Vendo o que me faz sonhar,
O que me faz chorar,
O que me faz rir,
E o que me faz sorrir,

Vendo o espelho que me reflecte.
Vendo tudo isto e mais aquilo,
Também vejo que vou morrer!
Nada posso fazer, nem tenho medo!
Mas tenho pena.

Tenho pena de deixar quem gosto, e do que gosto;
De deixar o mar, o campo, os cheiros e os sabores,
Os voos dos pássaros e o mugido das vacas pastando no campo,
Do perfume das flores e outros odores.

Tenho pena das lembranças,
Dos ralhanços que ouvi em criança,
E dos que a outras crianças eu dei;
De nadar no mar, todo nu, como nadei!
De roubar figos à noitinha no quintal da vizinha,
Das amoras que comi e do vinho que bebi,
Dos amores que vivi e dos que morreram em mim,
De tudo tenho pena. De tudo tenho saudades.
Mas vendo bem, tudo valeu a pena.
Mas morrendo … tenho pena!


(1) modo gerúndio do verbo ver

quarta-feira, 20 de junho de 2007

A MINHA CANETA




Já tive várias, mas só uma foi mesmo a minha caneta!
Lembro-me de a ter recebido embrulhada num papel às cores e com uma fita de laço, azul (pois claro já que eu era um menino).
Desatei o laço e desembrulhei o embrulho, porém sem rasgar o papel pois ainda serviria para outra qualquer prenda destinada a outro qualquer menino!
Era linda, às manchas vermelhas, claras e escuras que formavam uma espécie de mosaico.
Quis logo experimentá-la, até porque tinha um aparo em ouro; mas não! Era preciso ter tinta que se introduzia na parte superior da caneta movendo o braço de um pequeno embolo o qual “chupava” a tinta para dentro da caneta.
Mas não havia nem tinta nem tinteiro…
Além disso, era a caneta do papá, que já fora do vôvô, e que por isso não deveria ser usada não fosse ela estragar-se!!!!
Assim, lá guardaram a minha caneta a qual só voltei a encontrar uma porrada
(
[1]) de anos depois, no fundo de uma gaveta, sem préstimo algum, porém sem estar estragada.
Tal como vestiam as crianças com o fato de domingo e lhes assentavam umas porradas por (estando brincando) regressarem a casa, sujos, assim a minha caneta só me serviu para um fugaz momento de alegria, exacta-mente antes de a desembrulhar, posto que na verdade já a vira muitas vezes na secretária do meu papá.
E agora aqui está ela à minha frente, cheia de artroses e meio aparvalhada olhando desconfiada para a impressora não percebendo como a “concor-rente” escreve sozinha em folhas de papel, sem linhas, e tudo muito direitinho!
Ela que chegou a ser o último grito em ferramenta para escrita, não entende como é possível sair um texto duma espécie de forno de padeiro.
A minha caneta está deprimida!
Estou mesmo receoso que venha a cometer suicídio.
Para me precaver contra tal eventualidade vou fechá-la numa gaveta e talvez que um filho ou neto meu venha a encontrá-la, sem préstimo algum, contudo sem estar estragada!


[1] Interjeição (algarvia) para: quantidade.

segunda-feira, 18 de junho de 2007

a primeira vez

que aqui entrei, descobri um mundo novo.
Até me senti assim uma espécie de Colombo quando viu os primeiros indígenas, todos nus "em pelota", na beira da praia.
Ou foi o Cabral? Não, este só tinha olhos para as gajas...! Acho eu...!!!!
Se calhar estou a fazer confusão com outro filme!