sábado, 30 de junho de 2007

VENDO (1)

Vendo uma tristeza de hoje,
Vendo uma alegria com dois dias;
Vendo uma mágoa de anos passados,
Vendo um desgosto de todas as horas,

Vendo o que por mim passa,
O que me trespassa,
E o que me ultrapassa,

Vendo o que me desgosta,
O que me encanta,
E o que me espanta,

Vendo o que me “mata”,
O que me dá vida,
O que me entristece,
E o que me aborrece,

Vendo o que me alegra,
O que me acorda,
E o que me adormece,

Vendo o que me faz sonhar,
O que me faz chorar,
O que me faz rir,
E o que me faz sorrir,

Vendo o espelho que me reflecte.
Vendo tudo isto e mais aquilo,
Também vejo que vou morrer!
Nada posso fazer, nem tenho medo!
Mas tenho pena.

Tenho pena de deixar quem gosto, e do que gosto;
De deixar o mar, o campo, os cheiros e os sabores,
Os voos dos pássaros e o mugido das vacas pastando no campo,
Do perfume das flores e outros odores.

Tenho pena das lembranças,
Dos ralhanços que ouvi em criança,
E dos que a outras crianças eu dei;
De nadar no mar, todo nu, como nadei!
De roubar figos à noitinha no quintal da vizinha,
Das amoras que comi e do vinho que bebi,
Dos amores que vivi e dos que morreram em mim,
De tudo tenho pena. De tudo tenho saudades.
Mas vendo bem, tudo valeu a pena.
Mas morrendo … tenho pena!


(1) modo gerúndio do verbo ver

quarta-feira, 20 de junho de 2007

A MINHA CANETA




Já tive várias, mas só uma foi mesmo a minha caneta!
Lembro-me de a ter recebido embrulhada num papel às cores e com uma fita de laço, azul (pois claro já que eu era um menino).
Desatei o laço e desembrulhei o embrulho, porém sem rasgar o papel pois ainda serviria para outra qualquer prenda destinada a outro qualquer menino!
Era linda, às manchas vermelhas, claras e escuras que formavam uma espécie de mosaico.
Quis logo experimentá-la, até porque tinha um aparo em ouro; mas não! Era preciso ter tinta que se introduzia na parte superior da caneta movendo o braço de um pequeno embolo o qual “chupava” a tinta para dentro da caneta.
Mas não havia nem tinta nem tinteiro…
Além disso, era a caneta do papá, que já fora do vôvô, e que por isso não deveria ser usada não fosse ela estragar-se!!!!
Assim, lá guardaram a minha caneta a qual só voltei a encontrar uma porrada
(
[1]) de anos depois, no fundo de uma gaveta, sem préstimo algum, porém sem estar estragada.
Tal como vestiam as crianças com o fato de domingo e lhes assentavam umas porradas por (estando brincando) regressarem a casa, sujos, assim a minha caneta só me serviu para um fugaz momento de alegria, exacta-mente antes de a desembrulhar, posto que na verdade já a vira muitas vezes na secretária do meu papá.
E agora aqui está ela à minha frente, cheia de artroses e meio aparvalhada olhando desconfiada para a impressora não percebendo como a “concor-rente” escreve sozinha em folhas de papel, sem linhas, e tudo muito direitinho!
Ela que chegou a ser o último grito em ferramenta para escrita, não entende como é possível sair um texto duma espécie de forno de padeiro.
A minha caneta está deprimida!
Estou mesmo receoso que venha a cometer suicídio.
Para me precaver contra tal eventualidade vou fechá-la numa gaveta e talvez que um filho ou neto meu venha a encontrá-la, sem préstimo algum, contudo sem estar estragada!


[1] Interjeição (algarvia) para: quantidade.

segunda-feira, 18 de junho de 2007

a primeira vez

que aqui entrei, descobri um mundo novo.
Até me senti assim uma espécie de Colombo quando viu os primeiros indígenas, todos nus "em pelota", na beira da praia.
Ou foi o Cabral? Não, este só tinha olhos para as gajas...! Acho eu...!!!!
Se calhar estou a fazer confusão com outro filme!