quarta-feira, 20 de junho de 2007

A MINHA CANETA




Já tive várias, mas só uma foi mesmo a minha caneta!
Lembro-me de a ter recebido embrulhada num papel às cores e com uma fita de laço, azul (pois claro já que eu era um menino).
Desatei o laço e desembrulhei o embrulho, porém sem rasgar o papel pois ainda serviria para outra qualquer prenda destinada a outro qualquer menino!
Era linda, às manchas vermelhas, claras e escuras que formavam uma espécie de mosaico.
Quis logo experimentá-la, até porque tinha um aparo em ouro; mas não! Era preciso ter tinta que se introduzia na parte superior da caneta movendo o braço de um pequeno embolo o qual “chupava” a tinta para dentro da caneta.
Mas não havia nem tinta nem tinteiro…
Além disso, era a caneta do papá, que já fora do vôvô, e que por isso não deveria ser usada não fosse ela estragar-se!!!!
Assim, lá guardaram a minha caneta a qual só voltei a encontrar uma porrada
(
[1]) de anos depois, no fundo de uma gaveta, sem préstimo algum, porém sem estar estragada.
Tal como vestiam as crianças com o fato de domingo e lhes assentavam umas porradas por (estando brincando) regressarem a casa, sujos, assim a minha caneta só me serviu para um fugaz momento de alegria, exacta-mente antes de a desembrulhar, posto que na verdade já a vira muitas vezes na secretária do meu papá.
E agora aqui está ela à minha frente, cheia de artroses e meio aparvalhada olhando desconfiada para a impressora não percebendo como a “concor-rente” escreve sozinha em folhas de papel, sem linhas, e tudo muito direitinho!
Ela que chegou a ser o último grito em ferramenta para escrita, não entende como é possível sair um texto duma espécie de forno de padeiro.
A minha caneta está deprimida!
Estou mesmo receoso que venha a cometer suicídio.
Para me precaver contra tal eventualidade vou fechá-la numa gaveta e talvez que um filho ou neto meu venha a encontrá-la, sem préstimo algum, contudo sem estar estragada!


[1] Interjeição (algarvia) para: quantidade.

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