domingo, 23 de novembro de 2008

CHOVE LÁ FORA

Chove lá fora suavemente,
Sem barulhos, lentamente,
Em gotas miudinhas,
Pequeninas, que mal se sentem.
Molham tudo à sua volta,
Aos grandes e aos pequenos,
Aos loiros e aos morenos,
A todos sem distinção,
Seja Manuel ou João.
Formam “rios” pelos declives,
Pelos passeios e abrigos,
Pelas hortas e pelos matos
E pelos campos de trigos.
Regam ali que é preciso,
Mais além onde não é,
Molham tudo por onde passam,
Regam o milho e o café.
Molham a rua onde moro,
Onde vivo, riu e choro!

segunda-feira, 11 de agosto de 2008

NAQUELE LUGAR

Naquele lugar havia um lago,
Haviam flores, pássaros e odores;
Haviam árvores e castores;
Haviam amores!

Naquele lugar haviam carícias,
Haviam beijos e outras delícias;
Haviam flores e outros odores;
Haviam amores!

Naquele lugar haviam urzes,
Haviam namoros e outras luzes;
Haviam pássaros e castores;
Haviam amores!

Naquele lugar havia sol,
Havia um cuco e um rouxinol;
Haviam rosas e outras flores;
Haviam amores!

Onde estavas eu não te via,
Não te ouvia nem te sentia!
E de saudades eu morria…
Naquele lugar fui uma sombra!

Mas naquele lugar foste o luar,
Quando a meu lado, sentada,
Me olhaste e me beijaste
E de amor me falaste.

sexta-feira, 11 de julho de 2008

O CHORO E A RAIVA

Choro de raiva só porque choro;
Choro de raiva porque não choro!
Choro de raiva! Choro e Choro,
E só porque choro, choro de raiva!

Choro de raiva pelas injustiças,
Pelas calúnias e pelas malícias!
Choro de raiva pelos boatos,
Pelos fracos e pelos maus tratos!

Choro de raiva pela minha fraqueza,
Pela minha insegurança e pouca firmeza!
Choro de raiva pela minha impotência
De obrigar quem pode a uma melhor certeza!

Choro de raiva de noite e de dia,
Pela minha paz e minha cobardia!
Choro de raiva à noite deitado,
Entre lençóis e bem aconchegado!

Choro de raiva quando deitado!
E mesmo dormindo estando acordado,
Choro de raiva!

Choro de raiva! E choro! E choro!
Choro a revolta que por mim passa
Por saber que não mereço
Que me acusem de tanta desgraça!

Choro de raiva! E choro! E choro!
E choro com raiva pelo meu choro!

O meu choro nada resolve;
O meu choro nada adianta;
O meu choro só satisfaz
Aqueles que não me amam!

E também por isso eu choro!
Como choro pelos que amo!

quarta-feira, 11 de junho de 2008

PALAVRAS!

As palavras que me faltam,
As que não vejo nem oiço,
São as que mais vezes te digo,
As que sempre vou repetindo,
Em todos os meus pensamentos,
Em todos os meus momentos,
Por entre risos ou tormentos!

Por não ser assim tão letrado,
E mais não ter aprendido,
Fico sentado a teu lado,
Com ternura, Apaixonado,
Aos teus encantos rendido.

Tu não me vês nem me ouves,
Mas sabes que eu existo;
Olha-me que seja uma vez
E sente o que eu nunca te disse!

quinta-feira, 15 de maio de 2008

EU

Não tenho grande préstimo
Nem sou nada especial.
Sou tão feio que nem com máscara
Me aceitam no carnaval.

Se fosse bem esticado
Tinha 2 metros de altura,
Mas a marreca nas costas
Faz uma grande curvatura.

Tenho um olho de cada cor;
Um azul, outro castanho.
O nariz chega-me ao queixo
Tal é o seu tamanho.

Para enfeitar os beiços
Um bigode queria ter;
Q’os dentes são tão poucos
Que mal dão para comer…

Da minha cabeleira ruiva
Que já conheceu melhores dias
Restam-me 3 ou 4 pelos
Na careca luzidia.

Sou leve como passarinho,
E mais magro que um cão;
Uma qualquer ventania
Já me levanta do chão.

Por isso…

Em dias de temporal
Não posso sair à rua
Que num golpe de vento forte
Posso ir da terra à lua.

domingo, 13 de abril de 2008

O BEIJO

Os lábios que nos falam,
Que nos chamam e nos gritam,
São meigos e sendo doces
Os sentidos nos agitam!

E ao vê-los assim rosados
Do nosso rosto tão perto
Logo queremos beijá-los.
Seja ou não dia festivo
É isso sempre o mais certo!

Ao dia de hoje, 13 de Abril, o dia do beijo!

quarta-feira, 9 de abril de 2008

O MEU NASCIMENTO

Nasci de madrugada,
Numa manhã radiosa
Numa noite esplendorosa
De um dia em Abril.

Eu estava lá e lembro-me
Da bata branca da parteira,
Que era loira e bem jeitosa
E a quem palmei a carteira.

Pouco ganhei com o acto
Pois que ela, coitada dela,
Com dois filhos e seu cargo
E o marido na gamela (
[1])
Pouco dinheiro trazia
Para as compras desse dia.

Eram quase 100 escudos
Que (hoje) pagaria um café
Se não lhe mudasse de preço
O dono do estaminé!
Um labrego de bigode
Que é coxo de um pé
Por ter sido atropelado
Quando andava no pagode (
[2])

Ainda hoje ela se queixa
Por não saber como foi
Que naquela madrugada
A linda carteira de pele
Da sua mala fugiu!
E quem foi? Ninguém viu…


[1] Prisão!
[2] Desbunda, rapioca, festarola, copaneira!

quarta-feira, 2 de abril de 2008

NOS TEUS OLHOS

Nos teus olhos
a nostalgia,
A dor,
A beleza
E a alegria.
A amizade,
A certeza
E o amor.
Nos teus olhos
Em qualquer dia,
Tudo nasce;
Até uma flor!

quarta-feira, 2 de janeiro de 2008

SE EU PUDESSE...

…tinha um burro
P’ra passear em Lisboa,
Ver alfama e o castelo,
Ir à lapa e á Madragoa.

Ver as “tias” de Cascais
Olhando-me com “pavor”,
E os queques a gritar
Ai k’órror!, Ai k’órror!

E se tivesse vontade
Á INVICTA podia ir,
Saindo um mês “em antes”
E chegando no a seguir!

Podia nele montar em pelo
Ou então bem arreado,
Umas vezes de bengala
Noutras vezes de cajado.

Não tinha prioridade
Em rotunda ou cruzamento,
Mas seria bué de gozo
Passear de jumento.

Não paga o selo anual
E de seguro é isento.
Não tem chapa de matrícula
E não polui ambiente.

Não consome gasolina
Nem passa na portagem;
Nem tem que mudar óleo
Entre cada quilometragem.

Como gosto de animais
Ao burro tratava bem,
Mesmo levando mais dum mês
P’ra ir de zero a cem!

Mas não tendo condições
P’ró animal possuir
Conto-vos o meu desejo
E já sei: só se vão rir!