Estou em cama deitado,
Acordado, Pensativo,
Lembrando os bons momentos,
Os alegres pensamentos,
Os azares, os sentimentos.
As correrias, que aos pares,
Pela praia fazíamos,
Perseguindo as gaivotas,
E outras aves que havia.
Agora recordo o Queirós,
Aquele das pernas tortas,
Que corria mais que nós.
Por onde ele andará
Passados tantos anos?
Com as ideias que tinha,
Ou na Florida ou no Brasil
É onde terá casinha!
Também me lembro da Bia
Que connosco jogava à bola.
Subia às árvores sozinha,
E nós todos cá em baixo
De olhos esbugalhados,
Não fosse ela cair…!
(Dizendo que não lhe víamos as pernas,
Era estar a mentir!)
O António foi o primeiro
Que aprendeu a nadar,
A andar de bicicleta,
De patins e até a voar
Quando caiu do alpendre
E ao chão foi parar.
Valeu-lhe o fardo de palha
Que ali estava a “dormir”
Que lhe aparou a queda
Para ele não se ferir.
Do Manel, gordo e corado
Pouco há a relatar;
Estava sempre sentado
A ver os outros a jogar.
Gostávamos de o ter
Sempre em companhia,
Pois do pai, comerciante
Dono da mercearia,
Rebuçados e caramelos
Nos bolsos sempre trazia.
E tal era a quantidade
Que a todos satisfazia.
A Amélinha, toda gira,
Sempre muito bem vestida,
Só brincava com bonecas,
Mas nunca se importava
De nos mostrar as cuecas.
Tivessem bonecos ou folhos,
Ou outras decorações,
Dizia a toda a gente,
Que éramos as suas paixões.
E o mais interessado
Era o Luis calmeirão
Que com ela se casou
Há uns anos, no verão.
Do Alberto não esqueço
Daquele dia de sol,
Quando fomos roubar figos
Para os lados do farol.
Apareceu o “ti Jaquim”
Dono daquelas figueiras,
Que, gritando e berrando,
Nos correu à pedrada,
No Alberto acertando
Com um calhau voador.
Mas sem um grito de dor
Lá continuou correndo,
Até chegar a casa da avó Leonor
Que lhe pregou uns tabefes
Pela tropelia feita.
Mas que vendo bem a coisa,
Também foram por amor!
O Joaquim era esperto,
Talvez mesmo, inteligente;
Devia ter os seus motivos
Para não brincar com a gente.
Aos domingos ia à missa
Todo vestido a preceito;
Ia pela mão da mãe
(que tinha um grande peito).
Mas tinha uma coisa boa,
A Joana sua irmã;
Uma linda moreninha
Com olhos de avelã!
Estive com ela uma vez
Atrás do chafariz,
E se mais não me beijou
Foi porque ela não quis!
E eu, desengonçado,
Magro que nem um cão,
Nem sequer calças tinha;
Andei sempre de calção.
Franzino e pouco esperto,
Dei-me com toda a gente.
Não sou rico nem “doutor”!
Sou o que sou e não lamento.
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